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quinta-feira, 9 de maio de 2013

Chega uma hora que a gente tem que parar.


O tempo todo se fala de começar e fechar ciclos. O próprio ato de dormir e acordar na manhã seguinte sugere o fechamento de um dia e início do outro. São segundas, terças e quartas que nunca se repetem. São semanas que variam dentro de meses diferentes que transcendem anos. Um dia nunca é igual ao outro e aquela máxima de viver um dia de cada vez parece ser mais natural do que parece. Mas e quando se fala em amor?
Histórias batidas de términos ilustram as televisões e os romances de prateleiras desde que o mundo se entende por gente. Amores épicos e confusos, trágicos e simplórios se estendem pela História da humanidade paralelamente ao desenvolvimento de sociedades antigas e contemporâneas. A gente já aprendeu como se cura uma decepção amorosa das mais diversas e criativas formas. E também ouvimos receitas e mais receitas de como terminar um relacionamento, desde aquele primeiro amor juvenil ao relacionamento à distância que sufocava os dois.
Quando a gente precisa de um tempo pra gente? A ideia é que seja um tempo para colocar as coisas no lugar, aproveitar a solteirice e preparar terreno para quando bater aquela vontade de se doar a alguém. A ideia do tempo em que não estamos nos relacionando deveria servir justamente para isso: não pensar e buscar novos relacionamentos. O estar sozinho passou a ser considerado um crime. É sinal de fracasso e indica falta de algo. Mesmo com a revolução sexual e com as grandes possibilidades de se estar feliz sozinho, muita gente ainda levanta a bandeira da necessidade de ter alguém, ou pior, de buscar alguém. Essa busca desenfreada tira o olhar do “eu” e direciona o olhar para o outro. Pode parecer natural ou um alarde desnecessário, mas a partir do momento em que não aproveitamos e entendemos aquele espaço de reclusão, passamos a nos tornar escravos de uma ação: o ciclo da companhia.
O que a gente nunca deu atenção é sobre o hiato que acontece entre uma despedida e um encontro.

A nossa geração não sabe ficar sozinha. A gente aprendeu desde a criação social do homem que a vida é motivada por relacionamentos. A gente nasce de um relacionamento, cresce e estuda para ter condições financeiras e psicológicas para sustentar um relacionamento e fechar mais um ciclo. Óbvio que as condições estão mudando e que a busca pela independência tem nos tornado um pouco mais individualistas, o que sugere um rompimento desse ciclo vicioso e limitado de vida. Mas ainda assim somos carentes e buscamos companhia constantemente. Esse ciclo se comprova por aquelas frases de “ah, como eu queria estar namorando”. O importante nunca é quem, mas sim o status de estar ou ter. O olhar é tão perdido que valoriza mais o futuro da companhia do que o momento de reclusão, como se você não se bastasse e a busca da felicidade implicasse em achar alguém para trazê-la. Para onde foi o senso de “deixa estar” das pessoas?
A pausa não se antecipa. Ela pede que você se distancie dessa fixação por companhia e aproveite a sua. Aproveite o tempo para entender melhor sobre você e sobre os seus gostos. Aproveitar a sua companhia e desenvolver habilidades e percepções que podem estar acopladas à ideia de felicidade. Meditar, comer besteira, encarar novos projetos e ler um livro de romance que você sempre morreu de medo. Quando a gente precisa de uma pausa, as coisas pedem calma e pedem tempo. E pedem que a atenção seja dada ao “eu” e não ao outro. E pedem um pouco de “deixa pra lá” nos relacionamentos e um pouco mais de entender que a vida pode ir bem além disso. É preparar o terreno sem ter essa intenção e perceber que isso vai melhorar a qualidade dos seus próximos relacionamentos porque melhora você. É como um mantra repetido toda noite de frente pra TV quando você troca de canal. A programação é extensa e filmes possuem gêneros diferentes. Então por que ver a mesma comédia romântica de sempre se você pode escolher um canal diferente que tenha mais a ver com você? E se a programação persistir a mesma, você pode desligar a TV.

segunda-feira, 29 de abril de 2013

Carta ao Amor


De verdade, eu não acredito que você exista. E se já comecei pensando assim, boa coisa não vai sair dessa minha carta. O fato é que eu ando meio desacreditada, achando que toda a minha vida amorosa e essas coisas que a gente pode englobar nela são todas umas fraudes. Eu sou uma fraude, pra ser exata. Escrevo sobre amor, faço os outros acreditarem e nem eu mesma acredito numa única palavra que sai da minha boca. Mas hoje eu estava pensando e cheguei à conclusão de que, se não for por amor, que seja por você.
Que eu te encontre num dia ensolarado, nublado, chuvoso, com névoa e te diga alguma coisa. Que eu te reconheça no momento exato em que puser meus olhos em você. E que você saiba que houve um encontro ali. Que você esteja vestido de vermelho, amarelo, azul, verde, preto e branco. Que você me ache engraçadinha, pelo menos. Quem sabe tímida... Quem sabe babaca demais, quem sabe charmosa, quem sabe eu nem te chame a atenção. Mas que você me veja com bons olhos e eles encontrem os meus. Que eu acerte a cor dos seus olhos numa brincadeira qualquer. E que aí você perceba o quanto eu te enxergo em tão pouco tempo. Que você seja amigo de alguma amiga, ou o o professor de humanas, ou o cara do barzinho da faculdade, ou homem tímido do banco da lateral da igreja, ou o escritor desconhecido que gosta da minha playlist ultrapassada... Que você se encante comigo de alguma maneira. Que você se permita me conhecer melhor e saber que eu sou legal, ou que sou interessante, ou que não tenho nada a acrescentar a você, ou que eu sou uma completa egoísta, ou que eu tenho um blog bacana que fala dessas coisas bonitas que as pessoas acreditam. Mas que você não seja um ponto final como os outros se fizeram. Que seja as aspas, as reticências, o parágrafo, o travessão. Que você seja.
Que você saiba como eu sou complicada, ou que eu sou desajeitada, ou que eu sei dançar muito mal, ou que eu piso no seu pé porque não sei andar em linha reta, ou que eu detesto o cheiro de queijo ralado, ou que eu faço terapia porque não controlo nem o que falo. Mas que você decida ficar e me conhecer mais, seja por curiosidade ou porque acha que pode se encontrar no meio da minha bagunça. Que a gente se conheça aos poucos, aos muitos, aos tantos, aos beijos, aos toques, aos olhares, aos filmes de fim de tarde, aos cheiros de perfume novo, aos dias de dormir no colo, aos minutos de ligações intermináveis.  Que você possa contar comigo, possa dormir comigo, possa brigar comigo. Que você não se arrependa naqueles momentos em que a gente questiona o amor, que você tenha orgulho de me mostrar pras seus amigos e que eles tenham inveja de você. Que eu possa te trazer café na cama, te dar um beijo de surpresa, te ver sem não me toques, te olhar até você ficar sem graça. Que eu não seja odiada pelos seus pais, que eles não me chamem de filha, que seu irmão torça pro mesmo time que eu. Que você me queira como mãe dos seus filhos, que você se orgulhe de mim, que você esteja lindo me esperando quando eu entrar na igreja.
Que eu possa te fazer sonhar. Que eu possa realizar os teus maiores sonhos e te consolar caso alguma coisa dê errado no meio do caminho. Que eu não saia nunca do seu lado, nem quando você pedir. Que você chore bastante. Chore de rir, chore de saudades, chore de alegria. Que eu possa garantir que você não vai se machucar. Que o nosso filho tenha os seus olhos, a sua boca, o seu nariz. Que ele me lembre todos os dias de você. Que a gente caia um pouco na rotina e não mude por isso. Que a gente saia da rotina e se encante com algumas aventuras de vez em quando. Que a gente saiba reconhecer o valor da companhia do outro. Que eu te ame como nunca amei ninguém e que você me modifique da maneira que o seu amor quiser.
Mais importante que isso tudo: que você exista. E que não demore tanto pra chegar na minha vida, porque agora só dói eu não acreditar que você exista!

Ana Araújo

domingo, 28 de abril de 2013

Me leva pra casa.


Dá uma guinada com a cabeça pra ver se você esbarra a vista em mim, assim, em mais uma tentativa de fazer as coisas estalarem na sua cabeça e você entender tudo, tudo, tudo o que eu queria que você entendesse e visse e me dissesse e me pegasse pela mão e me levasse pra algum lugar que não fosse frio, mas agora eu já tô aqui nessa merda de rua vazia, esperando sabe-se Deus lá o quê de você e ainda assim, esperando. Eu sempre espero mesmo, espero com alguma coisa que já nem é mais esperança, alguma coisa que não é essa música que tá tocando aí – e que me lembra você –, alguma coisa que não são esses carros e essas pessoas me olhando sentada no meio de uma vista qualquer esperando algo que nem sei o que é. Tem ninguém à vista e eu tô aqui esperando você só me dar uma olhada certeira e fazer todo o resto. Eu nem exijo muito, eu acho, nem exijo que você mude meu mundo de cabeça pra baixo nem nada do tipo, eu nem exijo que você faça tudo numa ordem correta e eu nem falei de você pros outros, mas, por favor, me leva pra casa porque já tá doendo demais ficar aqui com os lábios rachados por conta desse vento.
Me deixa numa distância de quarteirão lá de casa e não se preocupa que eu vou andando. Se você não vai vir atrás de mim, então não precisa me deixar na porta porque eu sei que não vai ter despedida e isso vai doer mais do que os meus lábios rachados. Não vai ter aquele beijo terno nem aquela coisa de me avisa quando chegar em casa que eu quero saber se você chegou bem e eu vou ficar olhando pro whatsapp na esperança de algum daqueles balões conter o seu nome, nem vai adiantar se não for você porque eu vou passar os olhos e só isso. Ler eu só leio você mesmo. Leio esses livros de romance que você nem se quer sabe porque não é tão fã disso e achei que o último deles ia ter um final feliz, mas o cara foi lá e matou todo mundo como uma forma de se redimir e se matou no final e o livro era presente pra mim porque eu tinha gostado bastante e eu morri junto dele, sabe? Morri porque você nem fez questão de voltar aqui nem pra me olhar de verdade, nem pra me falar que tá com dor de cabeça ou pra me convidar pra fazer sei lá o quê com você e eu tava esperando mesmo era pela manhã seguinte em que eu não ia precisar olhar no whatsapp e teria o seu primeiro bom dia pra não doer mais. Nem isso aqui dentro sufocando nem o meu lábio rachado pelo vento porque teria você e teria saliva e não teria mais vento porque você teria me levado pra casa e estaria tudo bem.
Deixa pra lá que eu vou pra casa sem ninguém. Acho que você perdeu a hora e eu perdi o tempo porque eu espero e espero e espero faz tantos carros e tanta chuva e tanta gente e tanta música que me lembra você e tanto vento que os meus lábios tão doendo quase como tá doendo aqui dentro.  Já passou da meia noite e eu acho melhor eu chamar alguém porque não vai dar pra aguentar muito se você chegar aqui com alguém, não vai dar pra disfarçar, não vai dar pra gritar ou pra checar se está usando os seus óculos porque você nunca me enxerga aqui, nem vai dar pra reclamar ou pra pedir pra me deixar a um quarteirão de casa porque eu preciso pensar. E tá tocando essa música e eu realmente só queria ir pra casa sem precisar imaginar os porquês de você nunca vir e nunca me ouvir e nunca me ver e nunca, nunca mesmo sentar do meu lado, se despedir, me desejar boa noite, me acordar com um bom dia e, quem sabe um dia, você pudesse me levar pra casa, e sermos de verdade...

quarta-feira, 13 de março de 2013

Minha vida seria melhor sem você?

Sem avistar você no panorama ótico do meu campo de visão as coisas são menos finitas. Os espaços se preenchem de entendimentos que eu não posso ignorar. É você ali na foto e isso transforma os meus graus de miopia num blur seletivo: eu não consigo enxergar nada que esteja a sua volta. Com você no centro ou nos cantos da minha armação. Você deixa a minha visão turva e faz com que eu desmanche a postura previsível de segurança forjada. É que você me invade num contexto que só eu compreendo. É que você me desarma e, talvez, nem faça isso por querer. Só por acaso mesmo. Pior pra mim. Se eu não ouvir o que você diz, eu faço melhor. Como se cada palavra sua fosse um guia mal informado de todas as coisas que eu deveria evitar, mas não consigo. Cada fonema sendo ditado de um jeito irregular que me deixa extasiada e eu não consigo pensar direito quando o fundo de cena é a tua voz (mesmo que seja em pensamentos, quem me dera ouvir de novo tua voz... nem que fosse de longe). Seja aqui ou do outro lado da linha, eu tento me redimir internamente e me desculpar pelas vezes em que me distraio em você. Nas suas ondas sonoras que me confortam bem mais que algum mar de águas claras do litoral. É que a vibração do seu tom me desestabiliza. E o volume me desperta num sobressalto. São mais decibéis do que eu posso suportar. Em quantos Hertz bate a sua frequência? Ah, deixa pra lá. Nem o meu isolamento acústico consegue me dessa lembrança.

Sem você os meus abraços são mais vazios. Quando fecho os olhos e finjo que você tá aqui eu descanso a cabeça com alguma paz despreocupada e sem aperto nenhum no peito. Não tem agonia e eu não preciso me apresentar para ninguém que se entrelace nos seus dedos. Não tem o medo da solidão para me corroer por dentro, em silêncio, no escuro, enquanto toca alguma música alta e a minha companhia é uma xícara de café quente. Eu posso ser mais gentil com você mesmo se você não estiver por perto. Deixo a irritação que me abate por ter você por perto sem nunca ter e me deixo deixar de ser. Deixo estar tudo bem. Porque com você eu não estava sozinha. As coisas iam até você ir embora, sem que eu pudesse escolher... se foi, está em algum lugar do céu, que eu tento encontrar todos os dias, mas não consigo... se eu pudesse pelo menos por alguns segundos! Mas, Deus sabe o que faz. A paleta de cores das minhas escalas eram as mesmas e as minhas convicções mundanas continuavam firmes e fortes. A minha atmosfera era inofensiva, mas a sua morte tinha que me fazer colidir com alguma parte de você e desestabilizar o meu alinhamento. Faltou oxigênio. E a gravidade da situação era alta demais pra chegar perto de zero. Mesmo assim, eu flutuei. Fiquei sem os dois pés no chão. Sem você eu faria o mesmo movimento cotidiano de rotação sem me importar em virar de costas e esbarrar por acaso nos seus motivos. Eu acendi uma vela pra Deus, vivendo num paraíso infernal que é a sua presença faltosa. Despretensiosamente provocante. Insistentemente desleixada. Cheia de deixa pra lá, mas vem aqui. A minha vida seria melhor sem você. Mas, sem você, o que é que me sobra? Esteja bem meu anjinho doce... guarda um lugar pra mim do teu lado, porque eu espero te reencontrar!

Eternamente Menina cor de roa do Lipe!

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Minha vida Ordinária sem você!


Ligaram hoje mais cedo. Perguntaram por você. Me reviraram inteira ao pronunciar o seu nome com todas as letras e com a invasão típica de quem não sabe o que aconteceu. Ele está? Não respondi nada, me deu vontade de dizer: - Está. Ele sempre esteve aqui, até mesmo quando não estava mais. Infelizmente, você não pode falar com ele. Não vai conseguir encontrá-lo em outro horário qualquer e isso já faz algum tempo. Eu também me pego pensando se ele deu uma saída e vai voltar mais tarde. Mas nem é balela d quem quer dispensar quem está do outro lado da linha. É só que ele. Ele. Você não está.
Eu continuo trocando os sacos de lixo religiosamente às seis. Só cortei o cabelo porque a sua mãe me ligou uma vez e praticamente me obrigou a reagir. Ando comendo bem também e até comprei umas coisas novas. Não espero que alguém venha me visitar, mas você queria me ver sempre apresentável. Acho que entendem a minha dor como arrogância. Como se eu nunca tivesse tido o direito de sentar um pouco, trancar os cadeados e ficar sozinha. No escuro. Sem som nenhum. Até a dor ceder. Até adormecer. Eles confundem a necessidade de digerir tudo com solidão. Antes fosse só solidão e umas pílulas pra dormir. Antes fosse só insônia das brabas e umas sessões de terapia pra resolver. O que eu perdi não criou trauma, nem sequela aparente. É que não dá pra fingir que nada aconteceu ou que, pior, passou. Eu não passei, meu bem. E até tentei dar algo de mima alguém que eu não podia, eu não pude! eu machuquei, não adianta encher minha vida de gente nova... é você que grita dentro de mim!
Eu convivo com a falta. Os meus demônios me deixaram aqui depois que você me deixou aqui também. As coisas quase pararam depois daquela terça-feira ensolarada. O dia tava ótimo e dava pra gente ter pegado uma praia, matar o trabalho, fugir dos celulares e tudo o mais que a gente costumava fazer. Mas não deu. Era uma terça-feira diferente num corredor estreito com o coração mais estreito ainda na mão. Quase precisei de um desfibrilador quando os médicos vieram. A sua visão apagou. A minha audição acompanhava um ritmo constante de quem tinha acabado de desligar o que me mantinha viva. Você terminou comigo, porque achava que não me faria feliz daquele jeito... parece até que não sabia o quanto me fazia sorrir só de mexer o dedão do pé! Cheguei em casa Deitei no chão  e só acordei quando já tinham tirado você de mim. Se você fosse, lembra que eu não iria aguentar ficar aqui também?

Continuo assistindo aos mesmos programas e evitando dar de cara com as suas tomografias espalhadas pelos sites. Não mudei nada de lugar e nem quero jogar nada do que foi nosso fora. O que você foi, fica. Eu não quero esquecer, eu não quero tratar de seguir em frente. Porque eu tenho certeza de que eu seria uma pessoa pior pra mim – e pra você – se eu jogasse tudo fora, pintasse as portas, limpasse as janelas… Sem você a falta cresceria mais ainda e me devoraria. Me engoliria a seco. De uma vez só. Sem nem respeitar a minha dor como os outros, que pisam em ovos quando falam do seu nome. Eles não gostam de me revirar. Só querem mesmo é me expulsar de você por alguma razão benéfica que a minha razão desconhece.
É só que, por favor, não me deixa aqui sozinha de novo. Eu prometo não pular o muro do vizinho e prometo me comportar bem. Eu paro com as piadas de mau gosto, aceito me mudar pra alguma cidadezinha de campo e tiro a sobrancelha se você quiser. Eu paro de roncar, começo a beber menos coca-cola e até assisto às séries sem graça do seu lado. Vou jantar naquele cachorro-quente que você queria conhecer, te empurro de supetão na piscina e faço a massagem de todas as noites por mais tempo. Eu vou me agarrar a cada parte de você e você vai até enjoar da minha cara, ou vai rir de como eu sou boba, ou vai bater alguma foto espontânea da gente caindo no sofá, ou vai me dar um filho e a gente vai escrever um livro muito bonito sobre como tudo isso passou e a gente passou também e… A gente não passou, vida.



Posso falar com ele só um pouco? Pode, mas não demora. Ele precisa descansar? Ele não vai conseguir falar muito. Mas ele pode me ouvir? Pode, mas não demora. E eu continuo me lembrando de quando o médico me deixou sozinha com você. Foram as últimas três palavras que você conseguiu pronunciar antes de arfar um pouco e da enfermeira recomendar que eu te deixasse sozinho por conta dos sedativos. Foi o último beijo na testa e a última vez em que a falta não se fazia presente. E, depois da ligação de hoje e de terem me revirado por inteiro, eu vi que do avesso eu sou inteiramente você. E que a falta é o meu choro escondido vendo algum canto perdido nos lugares, nas fotos. Tudo ainda é sobre você. Até mesmo essa minha vida, que era pra ter sido menos ordinária se você ainda estivesse aqui.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

HOJE = VOCÊ = Preguiça de sofrer

Eu tenho cada vez mais menos respostas, mas também tenho cada vez mais menos perguntas. Disso eu não duvido mais: tenho cada vez menos certezas. E isso não me tornou insegura, não me fez perder a confiança, não me fez trancar de novo o coração. Muito pelo contrário. Quanto mais o tempo passa, eu fico menos à vontade para alimentar dores e com muito mais preguiça de sofrer. Quanto mais o tempo passa, menos faço por onde adiantar a morte, mais tento fazer por onde aproximar a vida. Os fios grisalhos da cabeleira também menina da minha alma dizem um viço que acende a vontade dos encantamentos de verdade. De verdade, entenda, é quando o encantamento realmente faz a gente sorrir. Coisas que já me importaram à beça já não me importam nem um pouco, enquanto aquilo que essencialmente sempre teve importância me importa, agora, com maior espaço e nitidez. Como deve acontecer com outros tantos aprendizes da coragem, às vezes, cansadíssima das lições e dos recursos do método pedagógico, eu recordo que a covardia, pelo menos na aparência, é bem mais fácil, bem menos trabalhosa, e, claro, bem mais egoísta, eu já estive lá com mais frequência do que ainda, às vezes, me hospedo. Mas aí, justo neste ponto, costuma acontecer algo bem bonito: também recordo de cada flor que veio à tona só porque tive coragem de cuidar da semente. Só porque eu cuidei. Só porque eu não me acovardei, mesmo que tantas vezes com todo medo do mundo.

Ana Jácomo.

sábado, 26 de janeiro de 2013

Pra onde foi a coragem do meu coração?

Li semana passada algo que dizia assim: "quem não tem aonde ir precisa descobrir a graça de ficar". E, que triste, eu perdi a graça! Perdi a graça de viver assim, somente por viver. É triste uma vida que só é feliz na sexta-feira ou no feriado. É coisa muito triste fazer de conta que se está vivo ou se é feliz. Passo a vida apenas querendo dormir e acordar numa vida maravilhosa. O que era raro ficou comum. Como um dia depois do outro. Tenho nem mais ânimo pra retirar os sonhos antigos da gaveta. Parece que eles mofaram. Tento fazer escolhas melhores, mas acabo caindo no mesmo abismo. Cada escolha é um dilema. Até tento racionalizar as coisas, mas eu sempre fui muito, toda coração, e me acabo toda quando algo em que boto alma não dá certo. Sou teimosa. Tô precisada que só de melhoria, de carinho, e as circunstâncias não ajudam, e aí é o fim do mundo mesmo, não tem jeito. Perdi as contas de quantas vezes meu mundo já acabou! Precisando me dar folga. Corpo cansado, mente cansada. Não tenho tido tempo nem de sentir saudade. Sinto imensa saudade do tempo em que eu tinha tempo... Ando cansada de estar cansada! Sabe aquela sensação de que não vai dar pra fazer tudo no mesmo dia nem que ele dure um ano? A sensação é que daqui onde estou já não dá pra voltar. Estou por um fio. Mas sempre há um pouco mais. A vida nunca nos deixa em paz, ela sempre pede um pouco mais. Por pior ou mais estranho que pareça, dizem que é pro nosso bem. E ela também sempre promete um pouco mais, mas já tô cansada também de esperar por esse novo pedaço de vida que nunca chega. A gente cansa.