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segunda-feira, 29 de abril de 2013

Carta ao Amor


De verdade, eu não acredito que você exista. E se já comecei pensando assim, boa coisa não vai sair dessa minha carta. O fato é que eu ando meio desacreditada, achando que toda a minha vida amorosa e essas coisas que a gente pode englobar nela são todas umas fraudes. Eu sou uma fraude, pra ser exata. Escrevo sobre amor, faço os outros acreditarem e nem eu mesma acredito numa única palavra que sai da minha boca. Mas hoje eu estava pensando e cheguei à conclusão de que, se não for por amor, que seja por você.
Que eu te encontre num dia ensolarado, nublado, chuvoso, com névoa e te diga alguma coisa. Que eu te reconheça no momento exato em que puser meus olhos em você. E que você saiba que houve um encontro ali. Que você esteja vestido de vermelho, amarelo, azul, verde, preto e branco. Que você me ache engraçadinha, pelo menos. Quem sabe tímida... Quem sabe babaca demais, quem sabe charmosa, quem sabe eu nem te chame a atenção. Mas que você me veja com bons olhos e eles encontrem os meus. Que eu acerte a cor dos seus olhos numa brincadeira qualquer. E que aí você perceba o quanto eu te enxergo em tão pouco tempo. Que você seja amigo de alguma amiga, ou o o professor de humanas, ou o cara do barzinho da faculdade, ou homem tímido do banco da lateral da igreja, ou o escritor desconhecido que gosta da minha playlist ultrapassada... Que você se encante comigo de alguma maneira. Que você se permita me conhecer melhor e saber que eu sou legal, ou que sou interessante, ou que não tenho nada a acrescentar a você, ou que eu sou uma completa egoísta, ou que eu tenho um blog bacana que fala dessas coisas bonitas que as pessoas acreditam. Mas que você não seja um ponto final como os outros se fizeram. Que seja as aspas, as reticências, o parágrafo, o travessão. Que você seja.
Que você saiba como eu sou complicada, ou que eu sou desajeitada, ou que eu sei dançar muito mal, ou que eu piso no seu pé porque não sei andar em linha reta, ou que eu detesto o cheiro de queijo ralado, ou que eu faço terapia porque não controlo nem o que falo. Mas que você decida ficar e me conhecer mais, seja por curiosidade ou porque acha que pode se encontrar no meio da minha bagunça. Que a gente se conheça aos poucos, aos muitos, aos tantos, aos beijos, aos toques, aos olhares, aos filmes de fim de tarde, aos cheiros de perfume novo, aos dias de dormir no colo, aos minutos de ligações intermináveis.  Que você possa contar comigo, possa dormir comigo, possa brigar comigo. Que você não se arrependa naqueles momentos em que a gente questiona o amor, que você tenha orgulho de me mostrar pras seus amigos e que eles tenham inveja de você. Que eu possa te trazer café na cama, te dar um beijo de surpresa, te ver sem não me toques, te olhar até você ficar sem graça. Que eu não seja odiada pelos seus pais, que eles não me chamem de filha, que seu irmão torça pro mesmo time que eu. Que você me queira como mãe dos seus filhos, que você se orgulhe de mim, que você esteja lindo me esperando quando eu entrar na igreja.
Que eu possa te fazer sonhar. Que eu possa realizar os teus maiores sonhos e te consolar caso alguma coisa dê errado no meio do caminho. Que eu não saia nunca do seu lado, nem quando você pedir. Que você chore bastante. Chore de rir, chore de saudades, chore de alegria. Que eu possa garantir que você não vai se machucar. Que o nosso filho tenha os seus olhos, a sua boca, o seu nariz. Que ele me lembre todos os dias de você. Que a gente caia um pouco na rotina e não mude por isso. Que a gente saia da rotina e se encante com algumas aventuras de vez em quando. Que a gente saiba reconhecer o valor da companhia do outro. Que eu te ame como nunca amei ninguém e que você me modifique da maneira que o seu amor quiser.
Mais importante que isso tudo: que você exista. E que não demore tanto pra chegar na minha vida, porque agora só dói eu não acreditar que você exista!

Ana Araújo

domingo, 28 de abril de 2013

Me leva pra casa.


Dá uma guinada com a cabeça pra ver se você esbarra a vista em mim, assim, em mais uma tentativa de fazer as coisas estalarem na sua cabeça e você entender tudo, tudo, tudo o que eu queria que você entendesse e visse e me dissesse e me pegasse pela mão e me levasse pra algum lugar que não fosse frio, mas agora eu já tô aqui nessa merda de rua vazia, esperando sabe-se Deus lá o quê de você e ainda assim, esperando. Eu sempre espero mesmo, espero com alguma coisa que já nem é mais esperança, alguma coisa que não é essa música que tá tocando aí – e que me lembra você –, alguma coisa que não são esses carros e essas pessoas me olhando sentada no meio de uma vista qualquer esperando algo que nem sei o que é. Tem ninguém à vista e eu tô aqui esperando você só me dar uma olhada certeira e fazer todo o resto. Eu nem exijo muito, eu acho, nem exijo que você mude meu mundo de cabeça pra baixo nem nada do tipo, eu nem exijo que você faça tudo numa ordem correta e eu nem falei de você pros outros, mas, por favor, me leva pra casa porque já tá doendo demais ficar aqui com os lábios rachados por conta desse vento.
Me deixa numa distância de quarteirão lá de casa e não se preocupa que eu vou andando. Se você não vai vir atrás de mim, então não precisa me deixar na porta porque eu sei que não vai ter despedida e isso vai doer mais do que os meus lábios rachados. Não vai ter aquele beijo terno nem aquela coisa de me avisa quando chegar em casa que eu quero saber se você chegou bem e eu vou ficar olhando pro whatsapp na esperança de algum daqueles balões conter o seu nome, nem vai adiantar se não for você porque eu vou passar os olhos e só isso. Ler eu só leio você mesmo. Leio esses livros de romance que você nem se quer sabe porque não é tão fã disso e achei que o último deles ia ter um final feliz, mas o cara foi lá e matou todo mundo como uma forma de se redimir e se matou no final e o livro era presente pra mim porque eu tinha gostado bastante e eu morri junto dele, sabe? Morri porque você nem fez questão de voltar aqui nem pra me olhar de verdade, nem pra me falar que tá com dor de cabeça ou pra me convidar pra fazer sei lá o quê com você e eu tava esperando mesmo era pela manhã seguinte em que eu não ia precisar olhar no whatsapp e teria o seu primeiro bom dia pra não doer mais. Nem isso aqui dentro sufocando nem o meu lábio rachado pelo vento porque teria você e teria saliva e não teria mais vento porque você teria me levado pra casa e estaria tudo bem.
Deixa pra lá que eu vou pra casa sem ninguém. Acho que você perdeu a hora e eu perdi o tempo porque eu espero e espero e espero faz tantos carros e tanta chuva e tanta gente e tanta música que me lembra você e tanto vento que os meus lábios tão doendo quase como tá doendo aqui dentro.  Já passou da meia noite e eu acho melhor eu chamar alguém porque não vai dar pra aguentar muito se você chegar aqui com alguém, não vai dar pra disfarçar, não vai dar pra gritar ou pra checar se está usando os seus óculos porque você nunca me enxerga aqui, nem vai dar pra reclamar ou pra pedir pra me deixar a um quarteirão de casa porque eu preciso pensar. E tá tocando essa música e eu realmente só queria ir pra casa sem precisar imaginar os porquês de você nunca vir e nunca me ouvir e nunca me ver e nunca, nunca mesmo sentar do meu lado, se despedir, me desejar boa noite, me acordar com um bom dia e, quem sabe um dia, você pudesse me levar pra casa, e sermos de verdade...