De verdade, eu não acredito que você exista. E se já comecei
pensando assim, boa coisa não vai sair dessa minha carta. O fato é que eu ando
meio desacreditada, achando que toda a minha vida amorosa e essas coisas que a
gente pode englobar nela são todas umas fraudes. Eu sou uma fraude, pra ser
exata. Escrevo sobre amor, faço os outros acreditarem e nem eu mesma acredito
numa única palavra que sai da minha boca. Mas hoje eu estava pensando e cheguei
à conclusão de que, se não for por amor, que seja por você.
Que eu te encontre num dia ensolarado, nublado, chuvoso, com
névoa e te diga alguma coisa. Que eu te reconheça no momento exato em que puser
meus olhos em você. E que você saiba que houve um encontro ali. Que você esteja
vestido de vermelho, amarelo, azul, verde, preto e branco. Que você me ache
engraçadinha, pelo menos. Quem sabe tímida... Quem sabe babaca demais, quem
sabe charmosa, quem sabe eu nem te chame a atenção. Mas que você me veja com
bons olhos e eles encontrem os meus. Que eu acerte a cor dos seus olhos numa
brincadeira qualquer. E que aí você perceba o quanto eu te enxergo em tão pouco
tempo. Que você seja amigo de alguma amiga, ou o o professor de humanas, ou o cara do barzinho da faculdade, ou homem tímido do banco da lateral da igreja, ou o escritor desconhecido que gosta da minha playlist ultrapassada... Que você se encante comigo de alguma maneira. Que você se
permita me conhecer melhor e saber que eu sou legal, ou que sou interessante,
ou que não tenho nada a acrescentar a você, ou que eu sou uma completa egoísta,
ou que eu tenho um blog bacana que fala dessas coisas bonitas que as pessoas
acreditam. Mas que você não seja um ponto final como os outros se fizeram. Que
seja as aspas, as reticências, o parágrafo, o travessão. Que você seja.
Que você saiba como eu sou complicada, ou que eu sou
desajeitada, ou que eu sei dançar muito mal, ou que eu piso no seu pé porque
não sei andar em linha reta, ou que eu detesto o cheiro de queijo ralado, ou
que eu faço terapia porque não controlo nem o que falo. Mas que você decida ficar
e me conhecer mais, seja por curiosidade ou porque acha que pode se encontrar
no meio da minha bagunça. Que a gente se conheça aos poucos, aos muitos, aos
tantos, aos beijos, aos toques, aos olhares, aos filmes de fim de tarde, aos
cheiros de perfume novo, aos dias de dormir no colo, aos minutos de ligações
intermináveis. Que você possa contar
comigo, possa dormir comigo, possa brigar comigo. Que você não se arrependa
naqueles momentos em que a gente questiona o amor, que você tenha orgulho de me
mostrar pras seus amigos e que eles tenham inveja de você. Que eu possa te
trazer café na cama, te dar um beijo de surpresa, te ver sem não me toques, te
olhar até você ficar sem graça. Que eu não seja odiada pelos seus pais, que
eles não me chamem de filha, que seu irmão torça pro mesmo time que eu. Que
você me queira como mãe dos seus filhos, que você se orgulhe de mim, que você
esteja lindo me esperando quando eu entrar na igreja.
Que eu possa te fazer sonhar. Que eu possa realizar os teus
maiores sonhos e te consolar caso alguma coisa dê errado no meio do caminho.
Que eu não saia nunca do seu lado, nem quando você pedir. Que você chore
bastante. Chore de rir, chore de saudades, chore de alegria. Que eu possa
garantir que você não vai se machucar. Que o nosso filho tenha os seus olhos, a
sua boca, o seu nariz. Que ele me lembre todos os dias de você. Que a gente
caia um pouco na rotina e não mude por isso. Que a gente saia da rotina e se
encante com algumas aventuras de vez em quando. Que a gente saiba reconhecer o
valor da companhia do outro. Que eu te ame como nunca amei ninguém e que você
me modifique da maneira que o seu amor quiser.
Mais importante que isso tudo: que você exista. E que não
demore tanto pra chegar na minha vida, porque agora só dói eu não acreditar que
você exista!
Ana Araújo
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